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70 anos do Arquivo Histórico Wanda Svevo

Wanda Svevo durante organização do evento Bienal. © Autor não identificado / Fundação Bienal de São Paulo

Em 1954, quando o mundo ainda se encantava com as inovações da arte moderna e as duas primeiras Bienais haviam sido realizadas pelo Museu de Arte Contemporânea de São Paulo – grande projeto cultural de Francisco Matarazzo Sobrinho inaugurado em 1949 – Wanda Svevo, na época secretária-geral do museu, inspirou-se na experiência da Bienal de Veneza para idealizar uma ação que ultrapassaria o tempo: os Arquivos Históricos de Arte Contemporânea. Criado oficialmente em 1955, os Arquivos Históricos tiveram como missão coletar, registrar e preservar a memória das Bienais de São Paulo, funcionando também como um centro informativo e de estudos sobre arte contemporânea. Além disso, se tornou um importante canal de comunicação sobre artistas, sendo fundamental para a compreensão das transformações da arte no século 20 e do processo de realização das Bienais que, desde sua primeira edição em 1951, consolidaram São Paulo como um dos principais centros de arte no cenário internacional.  

Em maio de 1962, com a criação da Fundação Bienal de São Paulo, essa estrutura de arquivos e biblioteca se desvinculou do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) e passou a integrar a nova instituição, que assumiu a realização das Bienais. A partir desse momento, o arquivo passou a acompanhar não apenas o crescimento da Bienal, mas também as mudanças políticas e sociais do Brasil. Em novembro do mesmo ano, sua idealizadora faleceu durante uma viagem a trabalho pela Bienal. Em sua homenagem, em 1963, o arquivo passou a se chamar Arquivo Histórico Wanda Svevo (AHWS). Com a instauração do regime militar e a consequente instabilidade política, o arquivo sofreu um processo de retração da preservação documental. Um dos possíveis reflexos desse período foi a significativa redução do material iconográfico, resultando na escassez de registros fotográficos das Bienais a partir de 1967 até 1979. 

No entanto, assim como a própria Bienal, o AHWS sempre teve a capacidade de se reinventar. A partir dos anos 80, marcado pela redemocratização do Brasil, o arquivo foi gradualmente resgatado, depois de ter ficado armazenado em uma sala fechada por quase vinte anos, e passou a desempenhar um papel mais significativo nas exposições da Bienal de São Paulo. Esse renascimento do arquivo foi resultado de muitos esforços, que envolveram bibliotecários, arquivistas, pesquisadores e curadores que, mesmo com poucos recursos, conseguiram organizar e preservar o material acumulado, colocando-o novamente à disposição do público. Setenta anos depois, o gesto visionário de Wanda Svevo transformou sua proposta de arquivo em uma preciosa fonte de pesquisa, reconhecida em diversas esferas. Em 1993, foi tombado pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) como bem de interesse histórico. Em 2017, foi tombado ex officio pelo CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio da Cidade de São Paulo) e, em 2024, foi declarado arquivo de interesse público e social pelo CONARQ (Conselho Nacional de Arquivos). Esses reconhecimentos oficiais reforçam o valor do AHWS como um patrimônio histórico no qual, cada carta, fotografia, cartaz e registro documental compõem um vasto acervo com o poder de reviver as histórias das Bienais e da arte no Brasil e no mundo.  Durante sua existência, o AHWS não apenas colecionou e preservou registros, mas também se reinventou, tornando-se uma ferramenta essencial para artistas, curadores e pesquisadores. Cada etapa de sua trajetória, marcada por desafios e superações, refletiu também as transformações do país, desde a repressão política até a renovação cultural. 

Hoje, ao olharmos para o AHWS, vemos não apenas um repositório de documentos, mas uma plataforma viva de memória que continua a registrar a história das Bienais. Não se trata apenas do que está arquivado, mas de como o arquivo transforma o passado em energia para o presente e o entendimento da arte. Ele não é uma estrutura estática de preservação, mas um espaço dinâmico onde o que foi registrado se torna matéria-prima para novos debates, criações e descobertas. O Arquivo Histórico Wanda Svevo, desta forma, permanece como uma ponte entre gerações, permitindo que o passado da arte contemporânea continue a dialogar com o presente e com as futuras reflexões sobre o pensamento artístico. 

Os documentos selecionados nesta curadoria destacam o propósito da criação do AHWS, registrado em texto produzido para divulgação na imprensa, além de cartas e fotos relacionadas a Wanda Svevo.
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